O PODER DA IMAGINAÇÃO
Wagner Fontenelle Pessôa
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Religiosos, ocultistas e até
neurocientistas defendem o entendimento de que as palavras — nascidas no
berçário das nossas formulações mentais — são capazes de produzir resultados
concretos no mundo físico e de gerar consequências reais, em relação aos
desejos que exprimimos por meio delas.
O
pecado, como sugerem algumas religiões, pode ser cometido pelas ações, mas
também pelas palavras e pensamentos. O mal e o bem podem ser produzidos pela
obstinação do desejo, sugerem os ocultistas. O pensamento pode ser materializado
pelas palavras, segundo explicam os estudiosos da neurolinguística.
Mas há outras circunstâncias que reforçam
em nós esses elementos de convicção. Em nosso processo de educação e formação,
as mães — sempre um pouco místicas, como as mulheres costumam ser — levam os
filhos à percepção de que a vida, afinal de contas, é feita de muitos
mistérios. E que, além daquilo que conseguimos perceber, a vida também é feita
de coisas que não estão ao alcance do nosso entendimento.
Existe, por exemplo, quem afirme que
"praga de mãe sempre pega"! A ideia é que as mães seriam dotadas
desse poder, dessa força em suas palavras e pensamentos, capazes de concretizar
os desejos, pronunciados pela vontade de seus corações, para o bem ou para o
mal. Tenho cá as minhas dúvidas sobre a existência de algum fundamento nisto,
mas, por via das dúvidas, conforta-me acreditar que esse poder das mulheres,
caso exista mesmo, só esteja direcionado aos filhos. E não aos seus maridos,
namorados e, principalmente, aos seus ex-maridos e ex-namorados!
Mas o que me interessa, por enquanto,
é refletir, de maneira nada científica, sobre aquelas pessoas que possuem uma
capacidade tão grande de concentrar-se em seus desejos, que, se não os
realizam, pelo menos conseguem acreditar naquilo que imaginam. Como no caso
daquele funcionário de uma prefeitura do interior, atuando numa função de pouca
ou nenhuma expressão, ganhando pouco e que, para completar, morava no quartinho
de uma pensão de terceira categoria.
O
que ele ganhava, mal dava para que pagasse pela hospedagem e alimentação, ao
final de cada mês, além do seu transporte de cada dia. Uma vidinha miserável,
para resumir tudo.
Mas quando recebia o seu pagamento, depois
de quitar o seu compromisso mensal com a dona da pensão e de reservar o
dinheiro para o transporte do mês seguinte, com o pouco que lhe sobrava — bem
pouco, na verdade — ele, já na volta do banco em que descontara o cheque dos
seus proventos, fazia duas paradas obrigatórias: numa farmácia e numa banca de
revistas, que ficavam no seu percurso.
Na
farmácia, ele comprava umas pastilhas de Sonrisal. E na banca, fazia a sua mais
cara e mais preciosa aquisição: a última edição de uma dessas revistas
especializadas em fotos de modelos nuas, que antecederam a internet e os sites de
pornografia! Depois, prosseguia o seu caminho até a pensão, onde, ao chegar, ia
diretamente para o seu quartinho, já levando um copo d’água.
Abria a revista na página central —
justamente aquela em que estava o "pôster" mais sensual da modelo que
vinha na capa de cada edição — e jogava uma pastilha do antiácido na água. Em
seguida, fixando o olhar na curvilínea moça da capa e ouvindo aquele ruído,
característico da efervescência do Sonrisal, revirava os olhos e dizia, para si
mesmo:
— Ah... Isso é que é vida boa!
Champanhe, mulheres...
Aquilo, sim, é que era apostar na
força do pensamento e no poder da imaginação!
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