Uma bela história -'Foi sofrido', diz reciclador que pagou em dia empréstimo de R$ 7 mil para comprar uma Kombi

Paulo Roberto Carvalho, de 56 anos, teve a ajuda da corretora de imóveis Estela Vizcaychipi para comprar o veículo. Foram sete parcelas de R$ 1 mil, pagas todas antes do prazo estipulado entre os dois.



O empréstimo não teve contrato, nem estipulou juros. Foi numa mensagem no Whatsapp que o reciclador Paulo Roberto Carvalho, de 56 anos, e a corretora de imóveis Estela Vizcaychipi selaram o acordo. "Eu escrevi assim para ele: 'todo dia 2 de cada mês, R$ 1 mil, completando R$ 7 mil'. Em nenhum segundo me passou pela cabeça que ele não pagaria", disse Estela

Morador da Vila dos Papeleiros, na Zona Norte de Porto Alegre, Paulo é conhecido por quem circula pelo Centro Histórico da Capital. Com a ajuda da uma Kombi, ele recolhe todo tipo de material para reciclagem e objetos que são doados. Em casa, ele recicla e vende.

O veículo novo, comprado há pouco mais de seis meses, só foi possível com a ajuda que começou com um pedido humilde e terminou com uma oferta que foi muito além do dinheiro.
"Eu conheci o Paulo há três anos quando chamei ele para retirar umas caliças [restos de obra] lá de casa. Ele tinha uma Kombi velha e fez uma vaquinha para consertar ela, era uma lata velha. Depois que ela estragou de novo, não teve mais conserto. Ele teve que pegar uma carroça. Eu via ela sempre cheia e ele de cima para baixo, magrinho. Eu pensava: 'o que vou fazer para ajudar esse homem'. Ele não sabia que eu queria ajudar."



Carta deixada por Paulo na caixa
de correio dos moradores do Centro Histórico.
— Foto: Arquivo pessoal


"Infelizmente minha Kombi estragou novamente, fundiu o motor e me cobraram R$ 4.500, mas eu acho que não vale a pena porque está muito velha, por isso eu queria comprar outra Kombi. Prometo pagar a todos o valor que preciso arrecadar", ele escreveu na carta.
"Eu queria devolver o dinheiro, eles já tinham me ajudado a pagar a outra Kombi", disse Paulo.
Depois que recebeu a carta, Estela iniciou uma ação paralela, sem Paulo saber. Pediu ajuda de amigos e arrecadou R$ 3 mil em doações. Enquanto isso, o reciclador conseguiu juntar R$ 2 mil com os moradores do bairro e numa vaquinha na internet. Mas o dinheiro arrecadado não era suficiente, ainda faltava muito.

"Eu perguntei para ele como iria pagar pela Kombi, ele disse que tentaria financiar o valor que faltar e que tinha R$ 1 mil reais para dar, por mês, de prestação. Eu sabia que ninguém financiaria isso para ele. Eu disse para ele procurar uma Kombi e ver quanto custaria, que a gente iria ajudar. Ele ficou numa alegria e me ligou no dia seguinte."


A Kombi, comprada de uma paróquia de Canoas e com pouco uso, custou cerca de R$ 14 mil. Para quitar o valor, Estela doou R$ 2 mil e se ofereceu para financiar os R$ 7 mil que faltavam.

"As pessoas me perguntam como eu fiz isso sem um contrato. Meus amigos criticavam, riam. Sou uma corretora, não tenho dinheiro sobrando, mas no que a gente pode, a gente ajuda. Tenho as fotos dele no dia em que pegamos a Kombi, da felicidade dele".

Enquanto tentava arrecadar o dinheiro para comprar a Kombi,Paulo usou uma carroça para buscar os materiais de reciclagem.
— Foto: Arquivo pessoal
"Foi uma emoção muito grande. Fiquei muito feliz. Quando eu vi a Kombi bem bonita, fiquei mais emocionado."

Paulo, Estela e o marido dela no dia em que buscaram a combi 

Reportagem-G1

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