MODESTO, APESAR DE TUDO...

Wagner Fontenelle Pessôa
Foi o meu amigo e irmão Pedro Luciano, funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, hoje aposentado e que coleciona um dos melhores repertórios que já escutei, sobre histórias de bancos e bancários, quem me contou este que repito agora, neste meu inacabável prosear de todas as semanas. 

E o ocorrido se passou em Catolé do Rocha, no Estado da Paraíba — que para melhor orientação de alguns, esclareço que fica entre Pernambuco e o Rio Grande do Norte e não no Maranhão, como imagina o Bolsonaro — cuja agência do BNB estava recebendo um novo gerente. Era o Martinho, que vinha substituir o antigo gestor daquela filial, que não sei ou não me lembro como se chamava. O que, também, não vem ao caso. 

O fato é que o antigo gerente, para entrosar o seu substituto com a coletividade, permaneceu, ainda por alguns dias, trabalhando e circulando ao lado daquele que o sucederia, antes de sua partida de Catolé do Rocha. E aproveitou o tempo para apresentá-lo aos clientes e outras pessoas importantes do lugar. Até porque, como sabem todos, em cidade do interior, gerente de banco é uma figura de destaque, só superada, em autoridade e galardão, pelo prefeito, pelo juiz, pelo promotor, pelo delegado e pelo padre. Principalmente por este último, que fala em nome de Deus. 

Assim, ficaram ambos trabalhando juntos, durante aqueles dias, na pequena agência do BNB. E, ao final do expediente, saíam para uma cervejinha ou para comer qualquer coisa. Deixavam de lado as conversas e a troca de informações sobre as rotinas bancárias e passavam a falar sobre como era a vida naquele lugar distante. Aqui e ali adentrava o ambiente algum cliente ou conhecido, que logo era apresentado ao Martinho pelo seu antecessor: 

— Esse aqui é o fulano, Martinho. Nosso cliente há mais de dez anos e sempre honrou os seus compromissos conosco. 

O apresentado, numas vezes, fazia uma mesura e se retirava. Noutras, lisonjeado pela apresentação, sentava-se um pouco com eles e "empatava" a conversa dos dois, antes de ir embora. 

Até que num desses finais de tarde, quase à noitinha, entraram num bar, para as libações habituais. Lá dentro, sentado sozinho numa mesa, estava um sujeito singular. Um desses tipos calados, que, no entanto, fez uma discreta reverência para o gerente, erguendo levemente pela aba o chapéu que trazia na cabeça. E que, ao se levantar para sair, aproximou-se da mesa onde estavam os bancários, para reiterar-lhes a deferência. 

Mas o gerente que se retirava da cidade não perdeu a chance de impressionar o seu substituto e não perdeu a chance de apresenta-lo: 

— Este aqui, Martinho, é o famoso "Zé da Moita". É o gatilho mais rápido da Paraíba e, só aqui em Catolé do Rocha, ele já "derrubou" mais de vinte! 

Diante da expressão de surpresa do novo gerente, o matador fez por menos: 

— É bondade sua, doutor... É bondade sua! 

Era um pistoleiro profissional, temido e respeitado naquela região. Mas, como se vê, era também um homem modesto, apesar de tudo...

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