UMA LENDA DE NATAL
Wagner Fontenelle Pessôa
|
Nesses tempos de Natal, inspirados por
tudo aquilo que existe em torno deste evento, que é de grande significado para a
porção cristã da população mundial, as igrejas, o comércio, os artistas
plásticos, a mídia e, até mesmo, humoristas de todos os estilos e, agora, os
internautas também, fazem o que podem para transformar a festiva data em motivo
e estímulo para a sua criatividade.
As
igrejas e religiões, elaborando e realizando cultos, ritos e liturgias, relativos
à importante ocasião. O comércio, enfeitando os seus estabelecimentos e fazendo
campanhas — por vezes, espalhafatosas — com o propósito de aumentar as suas
vendas. Os artistas plásticos, dando vaza à sua inspiração, que redunda em criações
e obras diversas, acerca do tema. E a mídia, produzindo ou reproduzindo textos,
falas e programas que exploram o motivo maior nessa época do ano.
Convenhamos,
porém, que, nem tudo o que se produz, a propósito dos festejos natalinos é de
boa qualidade ou de bom gosto. E a observação vale para os "autos de
Natal", produzidos por algumas igrejas, para a publicidade comercial e até
para a decoração das vitrines de algumas lojas ou para programas e peças de
iniciativa da mídia ou do próprio meio artístico. Porque, é claro, assim como
existe arte de bom, também existe arte de péssimo gosto!
Do
meu especial agrado, porém, é aquilo que os humoristas produzem. É neste campo,
aliás, que os chargistas e cartunistas colocam toda a sua criatividade, a
serviço do propósito de alegrar o nosso final de ano, quando pensamos que já
não temos nenhum motivo para dar umas gargalhadas.
Mas,
como sabemos todos, nem só de artistas do traço e da caricatura vive o humor
natalino. Porque também há os esquetes e os "stand-ups" —
apresentados nos palcos — além das anedotas, contadas e reproduzidas por
pessoas comuns e que, mesmo assim, quando bem contadas, não ficam nada a dever
aos textos que os profissionais dizem nos palcos. Pois é falando disso que eu
me lembro de uma lenda de Natal que me contaram certa vez, já faz bastante
tempo.
Há,
em torno desse tema e dessa data, uma série de alegorias e símbolos que, a
rigor, nada têm a ver com a origem dessas festividades. Como a árvore de Natal,
o presépio (na forma como alguns são concebidos atualmente), o hábito dos
presentes e a própria figura do Papai Noel, com o trenó e suas renas, assim
como a sua imaginária fábrica de brinquedos, que funcionaria, com a ajuda de
anõezinhos, lá onde ele mora. Segundo os mais crentes, na Lapônia, que é uma
região longínqua da Finlândia.
Pois,
juntando tudo isto — e sem atribuir a essas coisas a devida reverência — certa
vez me contaram que num desses períodos que antecedem aquela "noite feliz",
em que os presentes devem ser deixados por Papai Noel ao pé da árvore de cada
casa onde haja uma criança, a produção dos brinquedos, na fábrica do "bom
velhinho" estava atrasadíssima, porque algumas máquinas haviam apresentado
defeito e o anãozinho responsável pela manutenção não estava conseguindo
consertá-las com a necessária urgência.
O
"Santa” (ou Santa Klaus, para os menos íntimos) estava, por isto mesmo,
estressadíssimo, soltando fogo pelas ventas e gritando com os anõezinhos, de um
tal jeito que, se a fábrica fosse no Brasil, certamente, estes abandonariam o
trabalho e ingressariam com uma reclamação por assédio moral contra o
"cumpanheiro" da roupa vermelha, da barba branca e das botas pretas. Mas
lá na Lapônia, segundo consta, não acontecia nada disso. Aquela gente miúda
apenas ouvia os gritos do chefe e retomava o trabalho, ainda com mais afinco.
Ocorre
que, em determinado momento, a situação exacerbou: o anãozinho chefe da seção
de produção de super-heróis veio comunicar que toda a sua linha de produção
estava parada, porque havia queimado o motor principal da esteira rolante.
Quase em seguida, a Mamãe Noel veio dizer ao marido que estava na porta da casa
um anjinho, que queria, com alguma urgência, falar com ele.
Quase
no limite de sofrer um ataque de apoplexia, Papai Noel deixou o anãozinho da
seção de super-heróis sem resposta e partiu em direção à porta, para saber que
tipo de problema o recém-chegado estava lhe trazendo agora. Mas, no percurso
até a entrada e com a pressa que ia, topou com o dedinho do pé em um móvel da
sala, escorregou num tapete e, desequilibrado, bateu a testa numa coluna de
madeira maciça.
Com
a cabeça latejando e pulando num pé só, finalmente chegou à porta e viu, diante
de si, aquela figura de olhar angelical, que trazia consigo um pinheirinho e
foi logo lhe dizendo:
—
Papai Noel, estou aqui para lhe entregar esse pinheirinho de natal que lhe
mandaram lá de cima, com a recomendação de que não deixasse de montar a sua
árvore hoje mesmo, porque a sua decoração ainda não está pronta. Mas não sei o
que fazer com ele. Onde é que o senhor quer que eu coloque este pinheiro?
E
é por isto — segundo reza a lenda — que, até hoje, há sempre um anjinho
espetado na ponta da maioria das árvores de Natal.
Nenhum comentário
Postar um comentário