E ela na internet!

Eu aqui regando flores e ela nos stories

mandando mensagens 
tipo reflexões profundas. 
A casa está uma barafunda. 
O gato já se apoderou do armário, 
O rato passeia pela sala, 
e ela grita 
quando a conexão do wii fi cai. 
Se viesse aqui no quintal 
veria o tanto de folhas 
que caíram com o vento, 
mas nada , 
ela quer dar like 
no post do próximo evento. 
Vou acabar desenvolvendo um tik nervoso.  
Ela vem e me fala 
que abriu uma conta no tik tok. 
Que vai ficar rica com suas postagens se exibindo, 
que terá mais curtidas do que a Anita. 
O dia vai passando, o sol quase no meio dia, 
nenhum cheiro bom vem da cozinha, 
mas seu dedo já está duro de tanto bater ponto no smartphone. 

Quando a fome chega pede comida pelo aplicativo. 
Afirma que o motoboy chegará em menos de 30 minutos. 
Ficou compulsiva, 
compra mais da China 
do que do mercadinho em frente da esquina. 
A campainha toca, 
ela pega a identidade, 
olha pela janela 
é o correio 
trazendo um Spotlight pra sua live. 
Vai vender bugingangas 
feito influencier 
abduzida pelo mercado. 
Não tem senso de humor, 
é tudo Fake. 
Faz dieta lowcarb, 
não tira fotos, só faz selfie. 
Tem um linguajar próprio.
acho que binário. 
Uma coleção de expressões pra lacrar. 
À noite diz estar cansada, 
olha a agenda pela milésima vez
pra ter certeza que no outro dia,
sua vida vazia, estará cheia de futilidades. 
Tipo: encontrar amigas virtuais num aplicativo 
e falar mal de quem não está ali. Nunca quer saber  como foi o meu dia, 
apenas para pra contar do seu.
Tem horas que penso 
o que será dela se a internet acabar. 
Vai terminar capturada pela tela do celular, 
quando o 5G chegar.
Fonte: Alfredo Soares/ururau
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