Sobre professores, programas e lições
O adolescente era ruim em química. Só tirava notas ruins. O professor o chamou e lhe disse: “Continuando assim você vai ser reprovado...” O menino respondeu: “Vou continuar. Não tenho cabeça para química. Não gosto de química. Não há lugar para química na minha vida...” O professor observou: “Mas sei que você está interessado em literatura. Escreve para o jornal do colégio... E parece que você é bom nisso...” O aluno sorriu: “Sim, sou bom em literatura. É a minha vida...” O professor de química sorriu e lhe fez uma proposta insólita: “Vou resolver seus problemas de química para que você passe de ano e possa se dedicar à literatura...” E assim aconteceu. O professor de química fez o que o regulamento proibia. Deu cola... O aluno não aprendeu química mas pode se dedicar à literatura. O nome do aluno é Ignácio de Loyola Brandão. Não sei o nome do professor, que já morreu. Mas o admiro, assim mesmo, sem nome. Ele sabia que o importante não era o programa. Era o aluno.
(Rubem Alves, Correio Popular, Caderno C, 24/07/2005.)
Em tempo: Ignácio de Loyola Brandão, grande escritor brasileiro. Contista, romancista, jornalista, biógrafo. Completou 75 anos,no ultimo, 31 de julho de 2011.
Um comentário
Como Rubem Alves, também admiro este professor. E vislumbro a nação - e a humanidade - que poderemos ter, no dia em que pais e professores (cuja missão é, essencialmente, educativa) tenham a percepção para detectar talentos e dificuldades e a sabedoria para ajudar as crianças, adolescentes e jovens a passar sem traumas por essas últimas e investir "com vontade" nos primeiros. Grande abraço,
Ninna F.
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