"Revanche da cultura popular "
Em nosso curso de PEDAGOGIA da UNIRIO (Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro) trabalhamos a disciplina seminário de práticas educativas. No atual semestre estou atuando junto do seminário 3, com o tema “Docência e Cultura Local”. Quatro fóruns foram abertos e debatidos, estando como ultima tarefa a elaboração de uma reflexão crítica onde se construa uma relação entre um exemplo(da minha cidade) de iniciativa no campo da Cultura, Educação e Arte e os conteúdos abordados nos textos pesquisados de Paulo Freire e Milton Santos. Nos textos(Vários), é destacado a importância de uma Educação emancipatória, ações que possam transformar o aluno em sujeito crítico e capaz de transformar o seu cotidiano a partir dos conhecimentos adquiridos. O ensaio que apresento a seguir, pode ser Classificado com o fenômeno que o pesquisador Milton Santos chamou de “revanche da cultura popular “.
Projeto: Arte Lata
Cidade: São Francisco de Itabapoana, RJ
Objetivo: Trabalhar a Música com crianças
Público Alvo: Alunos inseridos no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil)
O Projeto Arte Lata surgiu como iniciativa da Secretaria Municipal de Promoção e Assistência social que é gestora no Município de São Francisco de Itabapoana, do Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).
A localidade de Quatro Bocas foi a escolhida para implantação do projeto, por ser esta uma das mais carentes do Município, onde localiza-se o lixão Municipal; nele um número acentuado de famílias tiram o seu sustento.
A cerca de 5 anos, no Pólo da localidade passou a ser desenvolvido o projeto ARTE LATA cujo objetivo é ensinar música utilizando material reciclado na confecção de instrumentos musicais. O trabalho, sendo desenvolvido com crianças que atuavam no referido lixão, teve como resultado a formação de um grupo musical que passou a participar de eventos no Município, fazendo pequenas apresentações; posteriormente o projeto foi ampliado e passou a contemplar crianças de outros pólos.
Com Participações em Eventos em todo o Estado, o grupo já se apresentou inclusive na Capital Fluminense, na sede do Governo do Estado, sendo recebidos pelo Governador Sérgio Cabral.
Iniciativas como esta acabam por valorizar e estimular a criança, levando a mesma a fazer uma leitura de mundo mais ampliada e percebendo as inúmeras possibilidades de transformação social e intelectual. Ao perceber-se valorizada e vendo-se a si própria como capaz, certamente sua autoestima se eleva consideravelmente.
O mundo da fábula que nos apresenta Milton Santos, acaba por ser desmistificado a partir de ações positivas como a apresentada; “...é na ação cultural que acontece a interatuação entre leitura de mundo e o multiculturalismo, uma vez que o sujeito lendo a realidade... ... encontra instrumentos para superação do mundo da fábula que ofusca os seus olhos não deixando ver a verdade das coisa...” (Leitura de mundo e multiculturalismo na escola sobre a ótica freiriana; dos Santos, Ferreira Luciana; pág.02)
A partir de ações como estas torna-se possível perceber o início do movimento que Milton Santos apresenta como “revanche da cultura popular”. As crianças que antes percebiam o contexto onde estavam inseridas (lixão, trabalho duro, fome, miséria) como único com possibilidade de sobrevivência, passam a ampliar essa percepção e descobrir (aliás, mais que descobrir, inventar e reinventar) uma outra realidade, tendo a arte uma ação mediadora desse processo.
O mundo da fábula, ao mesmo tempo que tiraniza, apresenta-se também como possibilidade, pois a globalização da informação e seu acesso, mesmo para indivíduos antes excluídos dela, nos coloca a todos diante de imagens e mensagens (via e-mails, celulares e tantos outros produtos da tecnologia) em intervalos de tempo cada vez menores e, portanto há tempo de pensar sobre os fatos e até (por que não?) opinar ou interferir neles. No entanto, o que vislumbramos em meio a tanta informação? Somos capazes de ver com clareza a realidade, muitas vezes exposta e outras camuflada? Para que o mundo da fábula tenha realmente o seu “véu” retirado, desnudando toda a realidade que é ofuscada pelo mundo globalizado gerido pelo sistema capitalista, é preciso uma atuação firme dos educadores que atuam no projeto, não bastando a eles (educadores) apenas a função da prática para com os instrumentos, repassar o que sabem para as crianças, mas a dialogicidade deve acontecer. A interatividade do conhecimento que cada criança carrega com os conhecimentos científicos deve ser mediada pelo educador, de maneira que o educando seja capaz de pensar e construir alternativas para transformar a sua realidade, colocando-se diante dela, não como mero receptor ou repetidor, mas como agente. Claro que tudo isso só será possível dependendo da concepção de educação, de educando e do processo de ensinar-aprender assumida pelo professor que atua em projetos dessa natureza. Somente pela concepção e prática de uma educação, muito bem definida pelo professor Paulo Freire como Libertadora, é possível avançar para além das aparências e, na essência mesmo do que somos e do que podemos vir a ser, fundar novos mundos, mais justos, mais solidários e igualitários.
3 comentários
Muito bom seu relato. PARABÉNS!
Muito legal!
Também to fazendo um relato de
Seminário 3!
Excelente, também estou fazendo esse relato do seminário 3, você poderia me dar uma ajudinha ahahah.
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