Bispo que acolhe LGBTs sofre atentado no Ceará; polícia suspeita de crime de ódio



Bispo mostra ferimentos ocasionados por estilhaços do vidro

O Bispo Alan Luz e uma pastora que o acompanhava escaparam por pouco da morte em um atentado na capital cearense. O bispo dirigia depois de deixar a emissora de rádio onde apresenta um programa quando três homens em outro veículo emparelharam com o carro do religioso. Um deles desceu e efetuou pelo menos um disparo que atingiu a janela do condutor. Apavorado, ele acelerou pelas ruas do bairro Jardim América. Os criminosos chegaram a efetuar perseguição, até sumirem da vista da vítima. O bispo é fundador da Igreja Apostólica Filhos da Luz, que recebe, em maioria, o público LGBT
A bala passou muito perto da cabeça do bispo e do tórax da pastora, antes de terminar a trajetória alojada na porta do carona. Ainda em choque, o Bispo Alan Luz conversou com o BLOG LGBT e contou o que lembra do ocorrido. “Foi tudo muito rápido. Os bandidos pararam paralelo ao meu carro. Um deles desceu do carro, colocou a arma do vidro e atirou. Eu já sai cantando pneu, tentando fugir. Eu vi que eles me perseguiram, mas ficaram pelo caminho e eu segui até a delegacia mais próxima”. Estilhaços do vidro feriram os dois religiosos, sem gravidade.
O caso aconteceu na madrugada de quinta-feira, por volta de 0h30 No dia seguinte, o bispo e a pastora prestaram depoimento na Divisão de Homicídios. Duas testemunhas que teriam presenciado o crime também foram ouvidas. Imagens das câmeras de segurança da região já estão de posse da polícia civil, que analisa em busca dos suspeitos.
A linha de investigação mais forte, segundo os agentes da especializada, é a de tentativa de homicídio motivada por crime de ódio. O Bispo Alan Luz já vinha recebendo ameaças de morte em redes sociais e desde o mês de março passou a receber uma
série de ligações anônimas avisando que deveria parar com o trabalho na igreja.
“Na ligação, a pessoa dizia que eu deveria calar a minha boca porque eu estava incomodando muita gente e qualquer dia desses eu poderia levar um tiro e esse tiro poderia me parar”, contou.
A ameaça obrigou o pastor a mudar a rotina de atuação na comunidade. Ele passou a andar acompanhado. Contudo, segundo o bispo, as ligações não cessaram. “Nas ligações a pessoa falava que sabia dos projetos sociais que eu realizava pela madrugada na comunidade. Que sabia a hora das visitas. Ele dizia: ‘qualquer dia desse você leva um tiro e que vão achar que foi bala perdida. Ninguém vai descobrir o que aconteceu’”, relatou Luz. As ameaças, segundo ele, vinham sempre acompanhadas de xingamentos homofóbicos. “Diziam que a gente não vai para o céu, que vamos queimar no inferno”.
Nos últimos três meses, o pastor começou a notar a presença de pessoas estranhas observando os cultos na parte externa da igreja. “Vinham sempre as mesmas três pessoas e ficavam fotografando. Além disso, durante a pregação, um carro ficava passando e acelerando em frente à igreja com o som alto. Há cerca de 10 dias, eu alertei a essas pessoas que se continuassem
fotografando eu chamaria a polícia
Depois do atentado, o religioso foi orientado pela polícia a mudar a rotina de atuação. Indignado com o que aconteceu, o bispo afirma que seguirá os conselhos para a sua segurança, mas não pretende abandonar os projetos sociais que conduz na região. “Eu não tenho medo de morrer. Fico temeroso em deixar desamparada minha família e às pessoas que são ajudadas pela igreja. Meus trabalhos sociais são dentro de favela, ajudando dependentes químicos, as pessoas mais humildes. Nós precisamos ter garantido nosso direito de ir e vir”.
Bispo convive há seis anos com atos homofóbicos
A Igreja Apostólica Filhos da Luz funciona há três anos em Benfica, no Centro Sul de Fortaleza. Os cultos são celebrados às terças e domingos para cerca de 200 fiéis, na maioria LGBTs . Antes de fundar a igreja, o Bispo Alan Luz já atuava há seis anos com a teologia inclusiva e pregou em outros ministérios. A homofobia, no entanto, insiste em acompanhå-lo durante esse período.
 “A outra igreja uma vez amanheceu pichada com os dizeres ‘morte aos gays’. Já tive pneu do carro furado. Nós vivemos numa sociedade que por incrível que pareça acredita que a homofobia não existe. Sinto uma grande indignação com o que aconteceu”. Fonte: O dia

Um comentário

Anônimo disse...

Se estivesse acolhendo pobres e necessitados não passaria por isto.