Secretários de educação defendem conteúdo obrigatório mínimo para o ensino médio
Os secretários estaduais de educação querem o fim da
divisão dos conteúdos por disciplinas no ensino médio e tempo para uma formação
diversificada. A intenção é dividir os conteúdos obrigatórios em grande
áreas de conhecimento e que ocupem de 50% a 75% do ensino médio. No
restante do tempo, o estudante poderá escolher uma formação voltada apenas para
uma dessas áreas de acordo com o próprio interesse.
A proposta deverá constar no Projeto de Lei
6.840/2013, em tramitação na Câmara dos Deputados. O PL institui o tempo
integral, ou seja, sete horas diárias no ensino médio. Neste final de semana, o
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) reuniu-se em Manaus para
definir um posicionamento em relação ao texto que está proposto.
Os secretários definiram que o ensino obrigatório
deve ser norteado pela Base Nacional Comum Curricular, que está em consulta
pública. A Base para o ensino médio deve ser o mais objetiva possível e deverá
definir o que todo estudante deve
aprender na escola. A proposta da Base
disponível já prevê a divisão dos conteúdos em áreas do conhecimento -
linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas - modelo usado
também na divisão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os
secretários propõe a inclusão de um quinto eixo de formação: técnica e
profissional.
"Não é dizer que vamos acabar com geografia ou
história, não é isso. A base vai trazer os conteúdos que todos os alunos devem
ter acesso, mas eu posso organizar o meu sistema desde que garanta que o
conteúdo esteja ali", explica a secretária de Educação e da Qualidade de
Ensino do Estado do Amazonas, vice-presidente do Consed e coordenadora do
Eixo-Reformulação do Ensino Médio, Rossieli da Silva.
Após cursar o conteúdo básico, que não deverá ocupar
mais do que 75% do tempo do aluno no ensino médio, o próprio estudante poderá
decidir a ênfase que quer dar para a formação. As ênfases serão as mesmas dos
eixos. O aluno poderá ainda receber uma capacitação profissional e formação
técnica, de acordo com a capacidade de oferta de cada rede.
Para acabar com a divisão por disciplinas, será
preciso revogar a Lei 11.684/2008, que obriga o ensino de filosofia e
sociologia como disciplinas no ensino médio. Caso aprovado, o PL também
acabaria com a possibilidade de disciplinas serem inseridas no currículo por
meio de outras leis.
Inglês obrigatório
Ponto polêmico nas discussões do final de semana foi
a defesa pela obrigatoriedade do ensino de inglês. Ao final, os secretários
concordaram que o ensino da língua estrangeira deve ser obrigatório no ensino
médio. "Sem o inglês, os nossos jovens não têm nenhuma possibilidade na
vida. Pode haver outras línguas, mas o inglês é o mínimo", defendeu
diretora executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade),
Maria Helena Guimarães, convidada como observadora.
Entre os empecilhos que foram colocados está a falta
de professores e os diferentes contextos do país. No Amapá, por exemplo, a
secretária de Estado da Educação, Conceição Medeiros, disse à Agência Brasil
que 90% das escolas têm aulas de francês, justificada pela proximidade com a
Guiana Francesa. O inglês chega a 50% dos centros de ensino.
Opinião importante foi dada por Ismael Ribeiro,
estudante que trabalhava de garçom no local. Ele conversou com os secretários e
recebeu o microfone na reunião. "Vocês são as pessoas que estão escolhendo
o futuro dos nossos filhos. A maioria das empresas não é gerenciada por
brasileiros, como vou tratar com um gerente se não falamos a mesma língua? Como
vou mandar meu filho estudar fora se ele não fala inglês? E não posso ir junto,
porque não falo", disse, e criticou, "E se for esse inglês que está
hoje na sala de aula, pode tirar, porque ninguém sai falando nada".
Mudanças no Enem
Para os secretários, o Enem tornou-se o currículo do
ensino médio. Os alunos hoje recebem formação para a prova. A ideia é que, com
as mudanças que serão trazidas pela Base, as provas também deverão ser
adequadas. Uma das propostas debatidas é fazer vários Exames Nacionais do
Ensino Médio (Enem), um para o conteúdo básico e outros para as demais ênfases
de formação. A questão, no entanto, não foi consenso entre os participantes da
reunião, que decidiram consultar especialistas antes de definir um
posicionamento.
Tramitação do PL
A intenção é que o PL seja votado pelo plenário da
Câmara até o final do ano, segundo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG),
presidente da Comissão Especial destinada a promover estudos e proposições para
a reformulação do ensino médio, que estava presente na reunião.
O substitutivo foi aprovado em dezembro de 2014,
desde então, Lopes diz que aguarda o posicionamento dos setores que foram o
ensino médio. "O Consed concentra a maior parte das matriculas, são eles
que operam o ensino médio, mas temos ainda que ter o posicionamento de outras
entidades e do ensino superior, das universidades que formam os professores,
porque vamos mexer nas licenciaturas, para que sejam também em áreas do
conhecimento", diz.
Da Agência Brasil/EBC.
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