Aluno aprende a ler e escrever aos 78 anos e professora de 70 volta à sala de aula para não deixar de ensinar
José Barreto dos Santos, de 78 anos, e Regina Cely Sales Souza, de 70, são aluno e professora, respectivamente, do projeto Escola dos Saberes, em Campos dos Goytacazes. Ambos passaram dos 70 anos e têm outra coisa em comum: ele tem sede de aprender a ler e escrever para registrar as músicas que compõe, e ela, depois de quase 40 anos lecionando, aposentou e voltou à sala de aula porque tem sede de ensinar.
Aos sete anos, José Barreto ia para a lavoura ajudar o pai enquanto os amigos da mesma idade iam para a escola. O tempo passou e ele viu a oportunidade do letramento ser substituída pelo trabalho que sustentava a família.
Porém, o dom de compor músicas ganhou espaço na vida do lavrador. Para passar as canções ao papel, até o momento, o lavrador pede ajuda aos netos. Há dois anos, José frequenta aulas de coral na Casa de Convivência do Parque Tamandaré.
“Tenho fé em Deus que, muito em breve, estarei escrevendo minhas músicas com minha própria letra e, além disso, lendo e interpretando. Ninguém consegue imaginar como é ruim não saber ler e escrever. Quando surgiu esta chance de alfabetização, pensei ‘é agora a minha vez’”, disse o aposentado, que já compôs seis músicas.
Nas aulas de coral, ele aprendeu a técnica de dominar o tom de voz e pretende gravar um CD. “Eu tenho muito boa vontade em aprender. Achei uma oportunidade na Escola dos Saberes e não vou largar”, explicou.
A educadora Regina Cely tem marido, dois filhos e cinco netos. Depois de lecionar para alunos do Ensino Fundamental durante 36 anos, ela disse que não aguentava ficar parada e se candidatou em um processo seletivo da Prefeitura de Campos, foi aprovada e convocada para lecionar novamente.
Para sua surpresa, a maioria dos alunos era mais velha que ela.
“Quando fui informada que daria aulas para idosos, pensei ‘Deus me deu esse propósito e eu vou assumir’. Hoje, encontro alunos na rua e o carinho é o mesmo de anos atrás. Isso não tem preço. E, com os idosos, não é diferente. Eu os trato como colegas, porque, apesar de ter formação no Magistério, trocamos muitos saberes diariamente”, disse.
A professora também ressaltou que nunca é tarde para adquirir e transmitir conhecimento.
“Eu venci e venço todos os dias meus ‘dragões’. Levanto cedo, faço minhas atividades de dona de casa, viajo durante uma hora para chegar na Casa de Convivência de Dores de Macabu e ser recebida com sorrisos e abraços. Isso é a maior recompensa de todas. Os idosos já são vitoriosos, só em estarem engajados neste projeto”, ressaltou.
Escola dos Saberes
O Programa Escola dos Saberes é desenvolvido nas cinco Casas de Convivência (Tamandaré, Dores de Macabu, Travessão, Conselheiro Josino e Centro Dia do Idoso) e funciona há um mês com mais de 70 alunos matriculados em uma das cinco unidades.
Pessoas a partir de 60 anos de idade podem se matricular em um desses pontos. Os professores são disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte (Smece), através da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que também cede um assistente social para acompanhar o desenvolvimento dos alunos.
O objetivo é favorecer a independência do idoso e valorizar construção do conhecimento com noções de todas as matérias do 1º ao 5º ano, além dos conteúdos transversais que contemplam as raízes das localidades, assim como dos alunos; economia doméstica, inclusão digital, etc.
Ao término do curso, os alunos receberão o certificado de conclusão de Ensino Fundamental I, consignado a uma escola municipal.
Fonte: Campos em Foco
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