ISSO NÃO É COISA QUE SE FAÇA!
Wagner Fontenelle Pessôa
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Todo
mundo passa, já passou ou passará por alguns momentos constrangedores durante a
vida. São aqueles momentos tensos, em que você acha que precisa dizer ou fazer
alguma coisa, mas não tem a mínima ideia do que deve ser dito ou feito. É aí
que acaba fazendo ou dizendo exatamente o que não deveria.
Isso pode acontecer durante uma
reunião de família, em uma festa na casa de amigos, durante o encontro casual
com um velho conhecido e, com mais frequência, nas ocasiões mais impróprias, aquelas
em que alguém está prestes a ser enterrado: casamentos e velórios!
Eu ainda era um jovem pouco versado
nas coisas da vida, quando fui, certa vez, convidado por um colega de trabalho
para um final de semana em sua casa de praia. Ele, a mulher e outros casais,
além de alguns solteiros, que faziam parte do círculo de relações da família. A
ideia parecia ótima — com muita comida, bebida e música — e lá fomos nós,
passar de sexta a domingo como hóspedes do cidadão. A carraspana foi geral e, a
certa altura, pondo de lado a prudência que essas coisas exigem, a dona da casa
resolveu ser “dadivosa” com um dos convidados,.
Dizem
que há um deus para proteger os bêbados e os amantes. Mas, desta vez pelo menos,
a regra não funcionou e o marido, depois de haver tomado todas, flagrou a
anfitriã “brincando de médico” com o hóspede do casal. Teve uma reação
destemperada e aplicou um corretivo matrimonial na cara-metade, interrompido pela
oportuna intervenção de alguns convidados. Foi um mal estar geral, embora quase
todos estivessem mais do que bêbados. E pior ainda ficou o clima de constrangimento,
depois que os efeitos da embriaguez coletiva se foram.
Na segunda-feira, meio sem jeito, o
marido me procurou (imagino que tenha feito o mesmo com alguns outros
participantes daquele final de semana em sua casa de praia) para desculpar-se
pelo ocorrido. Mas não desceu aos detalhes ou razões de mérito pelas quais havia
carimbado um telefone no “escutador de novelas” da mãe de seu filho, que,
felizmente, não estava incluído naquele programa. Referiu-se ao ocorrido como
se tudo não passasse de um desentendimento do casal, dizendo que a situação
saíra do controle por terem, ambos, bebido além da conta.
Sem saber como lidar com o assunto, eu
me senti mais do que encabulado com a conversa dele, que preferia não estivesse
tendo comigo. E não tendo a menor ideia do que dizer, mas achando que me cabia
dizer alguma coisa, eu me saí com um comentário absolutamente imbecil, que só
fez piorar o astral do corno:
— Casamento é isso mesmo, amigo: tem
uns que batem e outros que apanham...
A minha observação foi um
despropósito, uma besteira sem tamanho! E com certeza o fez concluir, lá com os
seus botões, que não deveria ter perdido o tempo dele comigo, um solteiro
inexperiente, sem a menor noção do que era levar um par de chifres, em plena
luz do dia, dentro da própria casa e diante de várias testemunhas.
Mas o infeliz comentário, como dito ao
início, foi o resultado do meu embaraço, de não saber o que dizer sobre um
assunto tão delicado. O mesmo que leva as pessoas, às vezes, a reagirem de
maneira totalmente inadequada em momentos graves. Num velório, por exemplo.
Como num episódio que me contou uma amiga, há poucos dias, sobre uma cena
surrealista que presenciou, numa situação dessas.
Era o velório da mulher de um amigo
dela, quando adentrou o recinto um “personal
trainer” que atendia o casal, há vários anos. Ele se aproximou do viúvo,
deu um abraço nele e, ato contínuo, caiu de quatro no chão, ao lado da urna funerária
da falecida e iniciou uma série de flexões, como se estivesse dentro de uma
academia.
A minha amiga tomou um susto enorme
com o disparate, totalmente incompatível com aquele momento de contrição e
reverência. Por um momento, achou que o sujeito havia tido um surto psicótico!
E olhou espantada para o viúvo, que lhe disse baixinho, procurando acalmá-la
antes que tivesse um acesso de riso:
— Deixa... Ele deve estar querendo
aliviar a tensão do momento.
Mas, francamente, meu amigo, que maneira
mais estranha de aliviar o nervoso! O “personal” que fosse aliviar a tensão no
velório da mãe dele! Porque isso não é coisa que se faça no velório da mãe dos
outros!
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