MOTIVOS BEM MAIS RAZOÁVEIS
Wagner Fontenelle Pessôa
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Compelido que fui, por recomendações
médicas, a romper com o meu confortável sedentarismo, acabei me matriculando
numa academia e contratando um “personal” que me orientasse no uso, sequência e
rotina de exercícios, naqueles aparelhos todos que existem nesses ambientes.
Confesso
o meu pouco ou nenhum entusiasmo por aquilo, porque, como atesta a minha nada
atlética silhueta, nunca fui um grande fã da malhação, da educação física
regular e das demais atividades a que se obrigam os apreciadores daquele
slogan, repetido orgulhosamente pelos fisiculturistas: “sem dor, sem glória”!
Pois,
no que me diz respeito, dispenso a glória, se a dor for o preço a pagar por ela,
porque não gosto nem um pouco dos exercícios físicos. E, se frequento um espaço
de “malhação” como aquele, não é, por certo, em busca do esplendor atlético. É, tão somente, para atender à exigência dos
profissionais de saúde que me assistem e insistem em me dizer algo que já estou
cansado de saber: “você precisa perder
peso”! Mas, principalmente, para aplacar a minha própria consciência.
O
maior problema, porém, é que os educadores físicos talvez acreditem que
conseguirão operar milagres através do sacrifício alheio. Deve ser por isto que
insistem em aumentar, a cada série de exercícios, a carga de trabalho e o
número de repetições naqueles aparelhos aos quais os desinfelizes se submetem,
nas penosas tarefas das academias.
Mas
percebi que, para isso, eles ficam observando o esforço que o orientando
despende para completar a série, as caretas que faz e o tanto que reclama da
“queimação” no músculo, ao final do exercício. É aí que aumentam o peso do
aparelho e a quantidade de vezes que o exercício deve ser repetido. Ou moderam
a sequência e a carga, para adaptá-la aos limites da desafortunada criatura.
Foi
aí que me lembrei da história que um grande amigo do meu pai lhe contou certa
vez. Filho de um abastado fazendeiro, que era possuidor de várias propriedades,
ainda garoto, certa vez acompanhou o pai a uma delas. E, ao chegarem,
encontraram um grupo de empregados tentando mover uma enorme tora de madeira, que
jazia naquele local há vários anos. Entusiasmado com aquela tarefa que os
homens realizavam com tanto vigor, ele se juntou a eles, na tentativa de
participar da movimentação daquele pesado tronco.
Ao
comando de um capataz, faziam o esforço em conjunto, gemendo ao mesmo tempo,
como costuma acontecer nesses esforços concentrados, para a movimentação de
algo excessivamente pesado. Aí, paravam, colocavam calços, reposicionavam as
alavancas e a tarefa avançava lentamente. E o garoto ali, fazendo força junto
com os trabalhadores da fazenda, que talvez fosse de pouca valia no conjunto da
obra, mas, no seu imaginário de adolescente, faria o pai orgulhar-se dele.
Foi
quando, numa dessas pausas, já com o rosto afogueado pela força que estava
fazendo, o pai o chamou de lado e lhe deu um sábio conselho, de quem conhecia
melhor a vida do que o filho:
—
Menino, eu vou te ensinar um negócio: nessas coisas você geme, geme, mas deixa
os outros fazendo força!
O
menino certamente compreendeu a orientação paterna, porque, muitos anos depois,
contaria essa passagem ao meu pai, rindo-se da astúcia do velho. E foi me
lembrando dessa história, que passei a empregar a estratégia do velho
fazendeiro capixaba em relação ao “personal” que me atende lá na academia.
Antes
que ele aumente a minha carga de exercícios ao máximo, já começo a gemer e a
fazer careta, para que ele não ponha em prática comigo aquela teoria besta do
“sem dor, sem glória”.
Mas
isso também acabou me fazendo perceber que, ao contrário do que muita gente
imagina, não são apenas as mulheres que gemem, quando querem fingir que estão
sentindo aquilo que, de fato, não estão. Há muito homem por aí fazendo,
exatamente, a mesma coisa! Só que por motivos bem mais razoáveis...
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