Alta do petróleo beneficia Petrobras e o Brasil, dizem especialistas
A alta do preço do barril de petróleo no mercado internacional,
hoje acima dos US$ 70, é bom para o país, para estados e municípios e também
para a Petrobras, que fechou o primeiro trimestre do ano com um lucro líquido
de R$ 6,9 bilhões, resultado 56% maior do que o de igual período do ano
passado.
A avaliação é de especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
Eles creditam que, mantidas as tensões geopolíticas atuais, principalmente no
Oriente Médio, e a posição da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)
de corte da produção, a tendência é de que o preço se sustente e até venha a
aumentar mais ainda, fechando o ano com um preço médio de US$ 75 o barril.
Para o sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de
Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o mundo vive hoje momentos de grande
turbulência geopolítica: “primeiro foi essa tentativa de invasão da Síria pelos
EUA, França e Reino Unido; ao mesmo tempo, tem a questão da Venezuela, um
governo complicado, e a ameaça dos Estados Unidos de adotar sanções comerciais
se as eleições naquele país não forem transparentes”.
Benefício à Petrobras
Conforme Pires, a atual elevação no preço do óleo no mercado
internacional, em um primeiro momento, só traz benefícios ao país. “No caso do
Brasil, essa alta também beneficia a Petrobras, que voltou a ser uma empresa
petroleira. No governo passado, havia uma intervenção muito grande na empresa e
acabava que ela tinha prejuízos com o petróleo caro, uma vez que não conseguia
repassar para o preço dos combustíveis”, disse.
O especialista diz que a Petrobras não atuava de acordo com a
lógica do mercado, de modo que tinha prejuízo com petróleo caro e lucrava
somente com o petróleo barato, já que praticava preços rígidos. “Agora não, o
governo, de forma correta, deu liberdade para que a empresa repasse para os
preços dos derivados a alta do petróleo no mercado internacional, e isso está
ajudando a companhia a se recuperar do estrago provocado pela política do
governo anterior. O resultado do último trimestre, quando a empresa aumentou
seu lucro em 56% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, comprova isso”,
afirmou.
O ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) Hélder Queiroz também elogiou a decisão do governo de dar
liberdade à Petrobras para praticar preços dos derivados tendo como parâmetro o
mercado internacional.
“A política de preços da Petrobras alinhada com o mercado
internacional é o que de melhor podia ter acontecido para o setor no país. É a
política certa e a melhor opção. Nós não podemos repetir os erros do passado
onde o governo usou a Petrobras como instrumento de subsídio. Isto não
significa que não se possa discutir os impactos que os preços elevados provocam
na economia”, disse à Agência Brasil.
Segundo Queiroz, preços mais altos são “evidentemente” muito
bons. “Pelo lado empresarial porque a Petrobras passa a ter uma possibilidade
de geração de caixa maior. Já do ponto de vista tributário há o aumento da
arrecadação de royalties,
que está atrelada ao petróleo e também ao dólar (que são dois elementos
positivos). Isto faz com que a arrecadação aumente porque o real se
desvalorizou um pouco e a arrecadação em reais vai ser maior se o preço do
petróleo subir”.
Benefício aos estados
Para Adriano Pires, diretor do CBIE, do ponto de vista dos
estados e municípios, a alta também é benéfica, uma vez que petróleo caro
aumenta a arrecadação dos royalties, “e royalties são
sempre uma necessidade, uma vez que a maioria [dos estados], e principalmente o
Rio de Janeiro, passa por grave crise fiscal, talvez a maior da história”.
Avaliação semelhante faz o professor do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar Almeida, especialista em
energia. Para ele, o Brasil, na atual conjuntura, se beneficia do preço elevado
do petróleo e em particular o Rio de Janeiro, que está com sua economia
deprimida e tem na indústria do petróleo um polo dinâmico de sua economia.
“De uma maneira geral, a indústria de petróleo do país, que
passou por um período de crise muito severa, tem um grande potencial de
crescimento e o preço do petróleo elevado acelera esse processo de retomada de
crescimento, que aliás já estava ocorrendo com impacto positivo não só para o
país, mas também para o Rio”.
Inflação do petróleo
O aumento nos custos vinculados ao petróleo foi lembrado como um
problema do atual cenário pelo diretor do CBIE. Pires ressalta que a
continuidade da elevação do preço do barril pode vir a ser prejudicial ao país
na medida em que petróleo caro pode levar ao aumento da inflação no Brasil e em
outros países. “E isso pode levar os governos a elevar os juros, o que pode
retardar ou dificultar o crescimento econômico. Também pelo lado do consumidor,
a alta pode vir a ser ruim, porque petróleo caro significa também gasolina
cara”.
Ele ponderou, entretanto, que o Brasil leva a vantagem, neste
caso, de ter o etanol como opção. “A maioria dos carros do país hoje já sai da
fábrica flex e, neste caso, o consumidor pode sempre optar pelo etanol em
detrimento da gasolina”.
O ex-diretor da ANP Hélder Queiroz de outro lado, pondera que a
relação entre alta de gasolina e inflação não é tão direta.
“O governo tentava controlar os preços, o governo Dilma em
particular, da Petrobras com medo de acelerar a inflação. Hoje a gente tem a
menor inflação da história na economia brasileira em décadas e nos últimos anos
nós praticamente dobramos os preços dos derivados. Isto prova que esta relação
entre liberação de preços e inflação não necessariamente é uma realidade, a
inflação é uma questão muito mais complicada”, afirmou Queiroz.
O professor Almeida, que também atribui a alta atual do preço do
barril à instabilidade no Oriente Médio, lembra que o fenômeno vai incentivar o
aumento da produção fora da Opep, o que pode reequilibrar a pressão sobre os
preços.
Volatilidade de preços
Para o ex-diretor da ANP, também professor do Instituto de
Economia da UFRJ, a alta recente só comprova que ninguém pode prever com
certeza o comportamento dos preços do petróleo. “Há menos de um ano, as maiores
empresas de petróleo, como a Shell e a British Petroleum, desenharam cenário
com o título Lower Price Forever (preços baixos para sempre) e, no entanto, os
preços estão subindo. E isto só comprova que os preços de petróleo dependem de
variáveis em eterna mutação”.
Ele concorda, no entanto, com as avaliações de que a situação
atual da alta do preço do barril tem um viés geopolítico mais uma vez. “E hoje
está havendo mais um sobressalto que está afetando o preço das commodities, um
produto que tem como característica histórica ser volátil e esgotável – daí
estes saltos para cima e para baixo”.
O professor da UFRJ só vê vantagens para o país com a volta
desta tendência de alta. “No caso específico nosso, o Brasil se tornou o país
do petróleo. Hoje temos uma produção relevante e maior do que a de muitos
países da Opep, além de uma exportação também relevante e que chega a mais de
um milhão de barris por dia”.
Calibração dos impostos
Apesar de defender a nova política de preços em vigor, Queiroz
ressalta que é preciso também levar em conta a questão relativa ao bolso do
consumidor. “E esta é uma questão relevante: temos que discutir, por exemplo, a
questão dos impostos. Porque se os preços continuarem em alta o governo pode
conter os preços dos derivados via redução de impostos, uma vez que a carga
tributária é muito elevado no país”.
Segundo Queiroz, há alguns impostos, como a Cide [Contribuições
de Intervenção no Domínio Econômico], por exemplo, que já contam com mecanismos
neste sentido. “Quando os preços sobem muito, o governo pode reduzir estes
impostos até para poder manter uma certa estabilidade na arrecadação”.
Para o ex-diretor da ANP, esta “calibração” dos impostos seria
muito bom até do ponto de vista tributário. “Seria saudável você pensar em
calibrar via impostos evitando uma maior volatilidade dos preços. O governo,
agora que os preços estão altos, poderia se reunir e através de decreto simples
do Ministério da Fazenda reduzir impostos, o que traria um alívio para o bolso
do consumidor”.
Fonte:
Agência do Brasil
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